Rodrigo Cesar
Um dos resultados do ciclo desenvolvimentista no Brasil – a chamada modernização conservadora – foi um intenso êxodo rural com conseqüente inchaço da população urbana, processo necessário para alimentar a crescente indústria com força de trabalho assalariada
Ao longo dos anos 1980 o Brasil experimenta dois fenômenos paralelos e não combinados: a) a continuidade do ascenso das lutas sociais e políticas dos trabalhadores, resultando no aumento da sua organização – vide a criação do PT, da CUT e do MST; e b) um intenso aumento na taxa de natalidade, gerando uma bolha demográfica que criou, nos dias atuais, a maior população jovem absoluta e relativa na história do país – hoje, os indivíduos entre 15 e 29 anos somam mais de 50 milhões, quase 30% da população.
No Brasil, o neoliberalismo – gerado em resposta a uma crise internacional iniciada no final da década de 70 – se tornaria hegemônico somente nos anos 90, iniciando sua implantação no governo Collor. O período atual é marcado pela conjunção de alguns fatores combinados.
Nos grandes centros urbanos gerados pela intensa industrialização dos períodos anteriores, a falta de políticas públicas e estruturais gerou o agravamento de uma série de problemas urbanos, principalmente de segurança pública, moradia e saneamento básico. Cresce a segregação territorial, aumentam as periferias e a desigualdade.
Uma imensa massa de jovens surge e não tem suas demandas essenciais atendidas, uma vez que não houve uma preparação adequada do Estado – enxugado pelo neoliberalismo – para receber parcela tão grande de cidadãos que passam a exigir novos direitos, como emprego e renda.
Os índices de desemprego e precarização do trabalho são crescentes, afetando principalmente a juventude que está ingressando na vida produtiva. Uma imensa massa de jovens não consegue sequer vender sua força de trabalho. Aumentam o exército de mão de obra reserva e a informalidade e pioram as condições de vida da maioria deste segmento, concentrado nas grandes periferias e convivendo com mais intensidade os problemas urbanos, em especial a violência.
Com o descenso das lutas sociais, o afastamento das direções de suas bases e um recuo programático e estratégico na maioria da esquerda partidária e social brasileira os dois fatores surgidos na década de 80 não conseguiram se combinar: no momento em que as classes trabalhadoras recebem um novo contingente de jovens devido à bolha demográfica, há uma queda na capacidade da esquerda de manter vínculos orgânicos com sua base social e de investir em organização partidária. Boa parte da juventude tem interesse em participar de ações coletivas para a melhoria das condições de vida de seu bairro e sua cidade, mas os partidos de esquerda, na maioria dos casos, não estão presentes.
Paralelamente, a reestruturação neoliberal das forças produtivas contribuiu para desagregar ainda mais as relações de classe entre os trabalhadores – jovens em sua maioria. Neste período, o Brasil e a América Latina não tiveram um intenso crescimento econômico e industrial – como é o caso da China e da Índia, por exemplo. Enquanto a classe trabalhadora assalariada destes países cresceu, por aqui aumentou o número de trabalhadores na informalidade e desempregados, agravando a desagregação.
A esquerda partidária e social não se preparou para dialogar com a maioria dos jovens, não consegue compreender as atuais condições objetivas e subjetivas que orientam a condição e a situação juvenis contemporâneas e suas diversas realidades. A relação que o PT manteve com os jovens durante o período de ascensão das lutas sociais e políticas nos anos 80 se deu em um ambiente muito distinto do atual.
O Partido não pode considerar possível organizar estes jovens se não estiver dotado de uma Juventude Petista forte e enraizada. Cabe ao PT investir maciçamente na JPT para que esta se aproxime, conheça e acompanhe as organizações que mobilizam as diversas juventudes – principalmente os sindicatos – e consiga estar presente nas inúmeras novas formas de luta que têm surgido entre os jovens. Soma-se a este desafio, a qualificação do PT e de sua militância jovem na formulação e implementação de políticas de juventude específicas e universais para gerar oportunidades de desenvolvimento integral que gerem, inclusive, melhores condições de organização e participação política.
Diante de um novo período de grande instabilidade política, econômica e social, de incertezas quanto aos seus desdobramentos nacionais e de dúvida sobre o que virá depois de 2010, é bom para o PT usar de sua experiência acumulada: investir na organização da juventude significa reunir forças para ajudar a encarar o presente e se preparar para o futuro – para o pior ou para o melhor. Neste segundo caso, a tarefa é dobrar a aposta na mobilização pelo aprofundamento das transformações. Com a vitória, contrariando os pessimistas de plantão, os desafios não serão menores.
Rodrigo Cesar é coordenador de relações internacionais da JPT
Um comentário:
Parabéns pelo blog e pela história de vida e de luta companheira!
Sabemos o quão comum é que militantes do Movimento Estudantil, quando confrontados com a realidade de ser trabalhador, desanimam, mas você não, mudou de movimento para permanecer na luta.
Siga sempre em frente!
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